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Conversas Desassombradas

Conversas Desassombradas | 2024-03-15

Sessão#4 - A Lealdade | Lisboa

Numa época de relativismos a Lealdade aparece como um valor a preservar.

O agrado e o desagrado são a base de uma teoria relativista dos valores, a qual entra em confronto com uma conceção, qualificada como “absolutista” pela tradição filosófica. Esta última considera que o valor, enquanto expressão axiológica, é o fundamento de todos os atos humanos. Atualmente, em muitos domínios que os media repercutem constantemente, quer em notícias, telejornais, ou no jornalismo interpretativo, cria-se a perceção e a constatação de que os valores perdem adesão às coisas. Logo tudo é válido. A começar pela ação política. A possibilidade de fazer combinações generaliza-se, como se fosse credível uma alquimia do presente, isto é uma transmutação constante que cultiva seduções retóricas, ambiciona e promete alcançar a riqueza (simbólica e material), mas em vez disso acaba por exibir a fragilidade democrática. Por outras palavras, os valores tendem a deixar de ser valiosos.

De facto as oposições características dos valores, por exemplo a lealdade e a deslealdade, ou a bondade e a maldade, dão com frequência lugar a oposições equívocas e ambíguas. Dir-se-ia que de um lado encontramos ainda (alguns) valores, e do outro artefactos ideológicos que todavia se apresentam com pregnância ética. Um bom exemplo disso mesmo é a oposição entre liberdade e wokismo. Num outro plano encontramos a oposição entre compaixão e excesso de narcisismo. A polarização entre valores desliza agora para uma polarização entre sentimentos e crenças. À qual se vem juntar o sucesso do hedonismo. O risco do vazio suceder à efemeridade do prazer é por isso flagrante. Uma vez mais a lealdade pode colmatar esse tipo de brechas. Seja a lealdade à beleza, (enquanto estética), ao outro, (seja um líder inspirador ou uma criatura amada), ou a uma forma de devir comunicacional (um discurso, uma prática da língua capaz de criar relações). Não se tratando de uma regra moral ela convoca uma aplicação do querer e rejeita a indiferença (por exemplo a abstenção num processo eleitoral).

Sem lealdade não existe um conhecimento politizado do mundo, mas apenas uma ilusão acerca desse conhecimento. A faculdade de distinguir entre as boas leis e as más leis, bons e maus governos, separando umas e outros em função da sua orientação para o bem comum, - recuperando aqui um enunciado tomista, que de certo modo resume a concepção medieval e cristã sobre o tema -, faz parte da essência da política, como coisa prática. Mas está longe de resolver todos os problemas. Talvez a primeira das lealdades seja aquela que o sujeito deve a si mesmo, na sua plenitude ontológica. E concomitantemente à diferença, com a qual só é possível lidar aplicando os melhores princípios, para os quais contam as boas intuições. Nem tudo é legislável. A necessidade não tem lei (Diogo Pires Aurélio, orador na sessão#1 de Conversas Desassombradas). Configura-se aqui uma pertinente exceção, da qual, entre outros, se ocupou Maquiavel. Importa encontrar aquilo e aquele em quem se pode confiar. A prova da confiança são os laços de lealdade pois esta possui uma aretê, isto é, a excelência, tal como a definia o saber dos gregos.

Numa sociedade marcada por desacordos e conflitos, onde não mais existe o sentido globalizante proporcionado por uma razão para a História, nem a certeza das grandes bipolarizações, a lealdade continua a ser uma possibilidade de lidar com a contingência. Ao contribuir para desafiar os relativismos, separando o que pode ser daquilo que é necessário, a lealdade entra no jogo das palavras e das omissões. É agregadora, sem ser totalizante nem definitiva.

Como pensam a lealdade Teresa Toldy, teóloga, professora universitária especialista em ética e Paulo Serra, professor universitário especialista em comunicação e vice- reitor da Universidade da Beira Interior. É o que vamos procurar descobrir na próxima Conversa Desassombrada organizada pela TELLES com curadoria de Eduardo Paz Barroso, professor universitário, autor e programador cultural.

A esta conversa juntar-se-á Rodrigo Rocha Andrade, advogado na TELLES, que irá falar sobre a importância e o impacto deste tema na sua profissão.

Clique na imagem para ver ou rever a Sessão sobre A Lealdade.

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