As “Conversas Desassombradas" regressam à TELLES, com curadoria de Eduardo Paz Barroso, professor universitário, autor e programador cultural. A IA entre a euforia e o temor vai ser o tema da próxima Conversa.
De um dia para o outro a expressão inteligência artificial entrou intempestivamente no quotidiano de toda a gente, na vida privada e na rua, nas empresas, nas escolas, na sociedade em geral. A abreviatura IA mais do que uma sigla transformou-se num signo do qual praticamente ninguém se separa. Entre a euforia e o temor a IA preenche muitas expectativas e vazios, combina possibilidades como se fosse uma fórmula mágica, provoca um tremendo impacto económico e apresenta-se como um poderoso factor de desenvolvimento. Mas também suscita medos e ansiedades. Por isso é fundamental pensá-la, e pensar com ela.
A escrita, a tipografia, as primeiras gerações de computadores, enfim, as sucessivas revoluções da comunicação, estão hoje claramente suplantadas por máquinas que fixam objetivos, que podem tomar decisões autónomas e mudaram os alicerces das nossas redes de informação. Porém, informação e verdade não têm o mesmo significado. Os novos modelos económicos, as estruturas políticas que os suportam e a trama cultural, consequência da revolução operada na criação e processamento da informação, exigem reflexão e ponderação, capacidade para dialogar com a sofisticação da tecnologia. Vivemos numa época de acentuadas e decisivas reconfigurações. Já não podemos tomar à letra a formulação de Hegel, filósofo do idealismo alemão, que defendia, no séc. XVIII, que “tudo o que é racional é real e tudo o que é real é racional”.
Saber onde entra exactamente a IA neste enorme sobressalto implica um exame minucioso de múltiplas situações e práticas que tanto podem envolver a segurança como formas de controlo ilegítimas, ou a invasão da privacidade. Discutir honestamente com criadores de tecnologia e programadores, com empresários, consumidores e utentes, reguladores e políticos, embora seja uma excelente prática, é algo que não se tem revelado suficiente para criar confiança.
Quem ensina, e o quê, à IA, é pois uma das questões que tem sido insistentemente levantada. Por outras palavras, já não se trata apenas de descobrir surpreendentes formas de jogar xadrez (quando um programa já de si avançadíssimo, o Stockfish, é derrotado por outro mais recente, o AlphaZero), nem de automatizar imensos processos, comerciais e administrativos, ou de viajar por entre a tradução de todas as línguas, ou da manipulação de exigentes operações matemáticas. Em suma, onde estamos e perante quê? Como desenhar um mapa para este misterioso território!
Nas pesquisas sobre o GPT-3, (convém ter presente que estamos perante modelos que se desenvolvem a uma velocidade alucinante), constata-se uma ambiguidade, e uma criatura comum fica na dúvida sobre até onde vai a capacidade da máquina simular o humano?
Estamos face a uma estrutura que desconhece qualquer moralidade, e que se assume sobretudo como um modelo de linguagem. Nesta teia complexa de opções e enredos, o risco da desordem digital é grande. A colaboração responsável entre humanos e computadores torna-se num elemento chave para retirar da IA os benefícios espantosos que ela é capaz de proporcionar.
Tudo isto ocorre num contexto em que uma série de sucessos, mas também de dúvidas, percorre as diferentes sensibilidades e perspectivas sobre a IA, um domínio onde se têm investido avultadíssimas verbas para criar novos produtos que acabam por influenciar de forma inédita todo o tecido social. Saber por exemplo até que ponto as máquinas serão capazes de tomar decisões e assumir responsabilidades, é uma preocupação crescente identificada por investigadores, numa intersecção entre ética e tecnologia avançada.
Inúmeras perguntas nos ocorrem: irão os chatbots dominar progressivamente a conversação? A criação de desinformação verosímil é potenciada pela IA, o que fazer então para travar a propagação de mentiras nos meios digitais? Como pode a IA ser aliada de valores civilizacionais clássicos estruturantes e amiga do progresso? Como reagir à IA invisível? Estas são apenas algumas das muitas perguntas que não podem ser adiadas, numa altura em que já não existem dúvidas que a IA, em algumas das suas dimensões, favorece a concentração de poderes e é a chave do “capitalismo 2.0”. Mas a inteligência artificial também fascina e encanta. Por isso são necessárias estratégias para trabalhar com estas dualidades.
Hoje não estamos certos de que as emoções e a escala humana sejam capazes de conduzir um diálogo entre saberes que inclua a IA, a sua impressionante capacidade de usar e lidar com dados e com a evolução permanente dos programas informáticos. E no entanto é importante acreditar nisso, discutir conquistas tecnológicas e colocar o problema no mesmo plano daquilo que é exclusivamente humano, como por exemplo, aceder à contingência ou à experiência da morte.
Entre outros prodígios, a IA tem a capacidade de relacionar, graças a uma arquitectura bem treinada em tetrabytes, palavras muito afastadas entre si. Colocar essa capacidade de explorar relações, que ultrapassa de modo incomensurável a inteligência dos humanos, ao serviço de um mundo melhor escrutinado e mais rico, parece ser a gigantesca tarefa democrática dos próximos tempos.
É neste contexto de questionamento construtivo que Arlindo Oliveira se junta à TELLES, e a Eduardo Paz Barroso, como convidado de Conversas Desassombradas. Presidente do INESC, com uma vastíssima experiência na investigação e no ensino, sedimentadas numa trajetória internacional pluricontinental, autor de vários livros, Arlindo Oliveira é uma das vozes mais reputadas e autorizadas para refletir sobre a IA. Cruza as áreas dos algoritmos, da aprendizagem automática e da arquitetura de computadores com o universo das empresas, formulando ao mesmo tempo uma visão cultural destas novas realidades e do modo como transformam as nossas vidas.
A sessão será realizada em formato presencial (limitado aos lugares existentes e mediante inscrição prévia), no dia 16 de junho, no Altis Grand Hotel, em Lisboa, e transmitida em live streaming.
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